OUTONO

Eu sou árvore...
(eis as memórias que se volatilizam, transformando-me num novo ser)
dispo-me sem pudor e o meu corpo despido é hibernação
cada folha que liberto são memórias voláteis de tudo aquilo que eu já fui
e em jeito amnésico aguardo o perene recomeço

NO PRINCÍPIO ERA O ESCURO

lembranças de outras vidas em mim

NO PRINCÍPIO ERA O ESCURO

Deste novo ser ainda só ecoa o silêncio
Lá fora ouve-se o murmúrio do mar
Compassado por esta batida cardíaca que me acompanha desde sempre e que marca o ritmo dos meus passos, em jeito de dança frenética

Algo em mim anuncia um novo deslumbre

Permaneço quieta, imóvel
Estremeço
Indigno-me
Depois o reconhecimento invade todos os meus sentidos apoderando-se do meu corpo
Apercebo-me então que carrego em mim o sentido da vida e que esse rio imenso e ondulante vem desaguar em mim...