Ah, AH... Reflexões num claustro "habitado" por seres fantásticos
Estas espantosas figuras mitológicas, cujos olhos me seguem dissimuladamente (quando não estou a olhar) enquanto caminho sobre as pedras desgastadas deste claustro (tenho a constante sensação de estar a ser seguida), umas mais esvoaçantes, apesar de fitarem sempre o chão em tom de vigia, parecem-me voláteis. Apesar de serem de pedra calcária, não parecem ter sido concebidas em nenhuma matéria térrea. Dão-me a sensação de que estão prestes a lançar-se num voo olímpio.Outras sólidas são maciças, pesadas, ainda que na sua condição de seres perenes, condenadas a um misto de ser fantástico e humano que não pertence nem à terra nem ao ar, sujeitas ao desgaste do passado, do presente e do futuro, vendo muitas vezes os seus membros mutilados, mas mantende sempre a sua dignidade serena.Os seus murmúrios silenciosos recordam-me da minha própria mortalidade, ouço-as rirem-se de mim (na lembrança de outras pessoas que sob os seus olhos também já caminharam e que partiram há muito deste mundo).- Não estejam tão certas da vossa imortalidade - lembro-lhes eu. - Mas não vos pretendo humilhar enxertando-vos, injectando-vos com materiais indignos das vossa condição de seres voláteis. Deixo-vos morrer na vossa dignidade frágil e prometo cuidar dos vossos pedaços que jazem junto aos meus pés.Afinal de contas eu também assisto ao vosso fim, mas não me apetece rir.